24 dezembro 2011

corrosão.

Ao manter coisas más cá dentro, estamos a corroer a nossa mente, o nosso coração. E de certa forma acabamos por agir de acordo com o que existe dentro de nós. Se guardamos coisas más, se lutamos para as manter bem vivas dentro de nós, então essas coisas acabam por nos dominar. 


Por exemplo, quando tentamos conter um ácido que corrói metal num recipiente metálico não protegido, é apenas uma questão de tempo até este recipiente falhar e começar a deteriorar-se. É claro que há recipientes próprios para conter ácidos. Mas será que o nosso coração e mente são imunes a todo o tipo de produtos corrosivos? Raiva, ódio, rancor, vingança, medo... 



image

Não somos máquinas e sentir faz parte de nós, do que nos torna humanos. Logo estes sentimentos irão sempre estar presentes na nossa vida. O que provoca estrago é a forma como reagimos perante a presença deles e o tempo que permitimos que eles estejam em nós.
Isto é o que eu acredito que nos faz muito mal. No momento em que acreditamos que nutrir estes sentimentos irá fazer de nós alguém mais forte e não devemos largar isto, como se estivessemos a largar parte da nossa vida...então neste momento acredito que sofremos ainda mais. Talvez no momento podemos não perceber, mas aos poucos estes sentimentos começam a corroer a nossa essência. Sem darmos conta mudamos, uns dizem que "crescemos"... não acredito que isto seja crescer. Para mim crescer, neste assunto, é a pessoa que sabe lidar com estes sentimentos e compreende que são passageiros. Que deve lidar com eles o mais rápido possível e deixa-los fluir.



Este tipo de sentimento corrosivo não é parte de nós. Nós não somos toda aquela raiva que temos por este ou aquele acontecimento, nós somos a pessoa que vive depois do acontecimento e como o faz. Nós não somos aquele medo que aquela pessoa ou situação nos provoca, somos a pessoa que perante este medo não arranja desculpas e tenta lutar. Nós não somos o ódio e a vingança que sentimos pela dor que nos causaram...somos a pessoa que encontrou força para ser mais forte e continuar a viver, aprendemos e aí sim, crescemos. 



Isto é muito bonito de se dizer, muito fácil de escrever. Agora agir segundo isto, é difícil. Requer prática, muita prática. E muitas pessoas desistem porque tentam logo ir a assuntos muito relevantes e importantes na vida. É como pedirem a um pai a quem mataram o filho para ele perdoar o assassino. Acredito que não é fácil, eu não sei se o faria. Não sei mesmo. Mas, espero que não seja o caso, muitos dos assuntos que provocam estes sentimentos em nós não têm esta dimensão, espero bem que não tenham. No entanto vejo as pessoas a agirem perante assuntos menores, com a intensidade do exemplo que vos dei. 

É claro que se começar um trabalho pela parte mais complicada este vai se tornar quase impossível. Então como devemos aprender a fazer isto? Simples, começamos com as coisas mais simples e que julgamos irrelevantes. Aos poucos. Aquela pessoa que nos passou à frente na fila. Aquele sentimento de raiva que sentimos? Pensar e meditar nisso. Aquela discussão sem nada demais...pensar nela e no que a motivou e como reagimos. Como poderiamos evitar? Apenas pensar no assunto, compreender porque reagimos desta ou daquela forma. Qual foi a nossa primeira reacção quando pensamos naquela pessoa que nos causou dor no passado. Será que ela merece ainda estar presente nos nossos pensamentos? Avaliar situações que acontecem no dia a dia, que muitas vezes nem damos conta. Perceber o que nessa situação nos provocou um determinado tipo de emoção e depois sentir essa emoção a desaparecer. E assim aos poucos vamos aprendendo. 



E espero que não se confunda o ser pacífico com passivo. Perdão com apatia. Compaixão com síndrome de Estocolmo. Diálogo com submissão. Bondade com fraqueza. Há uma altura para aceitar uma condição e outra para a revolta. A maturidade reside em saber o momento certo para cada e medir bem a nossa reacção e sentimento perante uma situação.   


Leva tempo, leva algum tempo e requer paciência. Disso podem ter certeza. Mas a longo prazo, acreditem bem nisto: vale bem a pena.

Aproveitem bem estes dias,
 parece que neste dias é mais fácil mostrar
 o que sentimentos a quem mais amamos.
E quem já o faz sem ser Natal, que continue =)

1 comentário:

Krystel disse...

Gostei imenso deste post. Revi-me bastante nas tuas palavras, e vou publicar aqui uma experiência pessoal, para dizer o quão certo estás quando dizes que é preciso começar por eliminar ou ultrapassar problemas simples para eliminarmos o lado "mau" de dentro de nós.
Eu fui, desde que me lembro, uma pessoa que se chateava por tudo e por nada. Bastava o comando da playstation falhar durante um milésimo de segundo, que eu o atirava ao chão. Bastava a televisão ter um problema, para lhe bater. Bastava alguém discordar ou criticar-me, para gritar.
Felizmente e ao mesmo tempo infelizmente, passei por uma situação infeliz há uns anos, que me trouxe essa visão das coisas. "Nós não somos toda aquela raiva que temos por este ou aquele acontecimento, nós somos a pessoa que vive depois do acontecimento e como o faz." como dizes. Perder partes de nós, deixar o ácido corroer partes de nós por...nada. Por nada. Não vale a pena.
E eliminar isso, é mais díficil do que se pensa.

Este post é um dos melhores posts que li nos últimos tempos. Desculpa o desabafo.
Um feliz Natal e um 2012 em grande.