10 junho 2013

Continuamos a aprender.

Resolvi publicar um texto que escrevi há quase meio ano atrás. Foi num momento que não me devo esquecer.


"E pronto, mais uma fase que chega ao fim. Não da maneira que tinha planeado... ou que estava à espera. Infelizmente pelo pior. Criamos planos a pensar que com motivação, conhecimento e muita força de vontade conseguimos realizar tudo, mas há sempre alguma coisa que escapa à equação. Mesmo que não seja da nossa parte, acaba por haver alguma coisa que nos atinge. E a Vida sabe bem dar os seus socos. Deixa-nos de rastos. E eu a pensar que já tinha passado por muito... enfim. 


Tentamos seguir o que queremos, começamos a ficar sem muitas possibilidades, o dinheiro começa a escassear e começamos a agradecer pelas boas oportunidades de jejum. Assim, quando voltamos a comer, sempre valorizamos mais a comida e a benção que é poder comer e ter uma refeição quente. Aumenta a empatia por quem está na rua e implora por comida. Tentamos tudo que podemos, direccionamos toda a atenção e energia para conseguir sair da situação e colocamos algumas coisas de lado que nunca deviam ser colocadas de lado. Amigos, família, bem-estar físico e mental. 

Reduzi drásticamente a quantidade de desporto que fazia, passei de treinar quase todos os dias, para uma ou duas vezes por mês, acreditava que esse tempo podia ser usado para pesquisar por oportunidades de trabalho. Idiota. E com a falta de treino o corpo vai enfraquecendo... já não estamos plenos, apertamos mais um buraco no cinto. 

Não estou a queixar-me da situação, haverá pessoas em situações piores, mas custa. Só isso. Ao fim de dedicar-me com sangue, suar e lágrimas para me formar, tive que tirar essa formação do CV para arranjar trabalho. Mas nem assim. 

E vou respirando fundo, dando graças por ainda ter forças para sorrir. Por ainda manter uma boa disposição e optimismo que me mantém a lutar. Por descobrir que quando a comida falha, quando a motivação cai... quando tudo abana... fico contente por estar a seguir a minha paixão, pois é o meu coração quem realmente me dá força para continuar. Estou grato pela família que dá apoio inquestionável, a namorada com a sua alegria contagiante e força que atiça a chama para lutar, pelos amigos que conversam e ouvem desabafos. E destes amigos, posso dizer que tenho feito de todos os géneros, alguns dos mais recentes, fiz na rua. Como não tenho dinheiro para dar aos mendigos, dou atenção. Falo com alguns e escuto... alguns tornam-se amigos. Já não pedem dinheiro, mas chegam, apertam a mão e metem conversa. Posso não lhes ter dado dinheiro, mas fiz amigos. E estes amigos que já me viram passar na rua um pouco para o triste e gritam "Então amigo, que é isso? Vá, Força." ... é fantástico. Alguém que não sabe quando será a próxima refeição, que dorme sem um tecto, debaixo de uma ponte, encontra forças e tem uma forma de viver que lhe permite motivar os outros a ser felizes e a Viver.

Vou aprendendo. E foi das últimas coisas que aprendi no Porto. Que ser orgulhoso e ter vergonha é idiota, é parvo e não faz sentido. Sim, talvez o orgulho de realizar uma tarefa possa ser bom, sentimo-nos bem por ter realizado o que fizemos... chamem isso de orgulho. Eu chamo de satisfação pelo trabalho. E a vergonha... coisa parva esta. Sentirmos vergonha de ainda não termos atingindo o que queremos, de ter medo de dizer que temos dificuldades... a vergonha, essa coisa que nos leva a sofrer e não procurar ajuda. Isto afasta-nos, estreita a ligação com as pessoas. E há pessoas que não merecem que as ligações que temos, sejam fragilizadas. Merecem honestidade e o melhor de nós. E assim vou aprendendo, a vida não dura para sempre... convém não errar muito... mas com os erros vou aprendendo. Vou conhecendo-me melhor e aos que me rodeiam e com esta informação, vou fortalecendo o meu carácter ou melhorar onde posso. Convenço-me que tenho que ser mais forte, mais esperto... mais tudo. Que consigo e vou conseguir. Apenas o trajecto é um pouco acidentado, talvez por ser pouco percorrido... não sei. 

Foi um desabafo... apenas isso."

Escrito em Dezembro de 2012.



E assim escrevi o último texto antes de fazer as malas. Não encontrava emprego e nem sequer vou falar no saldo que estava a negativo. 

Já estava mentalizado que ia embora. Fiz as malas, empacotei livros, folhas e memórias. Até que recebi um telefonema. Uma das entrevistas de emprego para uma bolsa de investigação. Foi escolhido. Não vou entrar em pormenores sobre o que senti neste momento... Mas a melhor forma que tenho para o expressar é através de uma cena de um filme "The pursuit of Happiness", com o Will Smith... no momento em que lhe oferecem o emprego. Agora que revejo o filme, valorizo o papel que ele desempenha e sinto-o... no coração. Basta isto para expressar o que senti.

Para quem ainda está à procura, para quem está num estado onde desistir é a "opção mais sensata"... não o façam. Sim, custa... e por vezes temos que fazer coisas que podem não estar nos nossos planos. Mas não parem de lutar pelo que querem. Aguentem mais um pouco... só mais um pouco. Isto custa dizer porque... porra, custa mesmo dizer... mas algumas paredes existem para sabermos exactamente o quanto queremos uma coisa.

Tinha planos de escrever mais sobre isto, mas por agora não dá. Tenho que voltar ao jantar e voltar ao trabalho. Tenho escrito pouco no blog... estou a tentar encontrar outras formas para escrever o que sinto, tenho saudades. Daí estar a escrever um livro. Sempre que posso aponto ideias e escrevo mais um pouco. Vai crescendo aos poucos. Entretanto estou a aprender um pouco mais sobre podcasts. Dá jeito... quem sabe em breve poderei publicar alguns.

Por agora fica aqui um abraço a todos, um daqueles abraços especiais que nos aquecem. Obrigado por lerem o que escrevo e pelos comentários.

Sejam felizes e lutem, caraças, LUTEM PELO QUE ACREDITAM.

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