Houve uma altura quando estava praticamente o dia todo com auriculares. Por vezes nem tinha música, simplesmente estavam colocados, por vezes ajudavam a ter algum "sossego". Outras vezes (na grande maioria) ouvia música, discursos ou audiobooks. Achava que assim ajudava a passar o tempo ou a "ignorar" alguns pensamentos ou barulhos de fundo. Como diz aquele ditado "headphones on, world off."
E devo admitir que até resulta. Mas parei de o fazer. Pelo menos tantas vezes, já não uso no metro ou no bus, nem na rua. Senti que estava a saturar um dos meus sentidos para escapar a alguma coisa. Estava a abafar alguns pensamentos e sons porque não queria lidar com eles e o mp3 era uma excelente forma de escape, ainda por cima quando adorava o que ouvia.
Agora já não o faço tantas vezes. Passo mais tempo sem auriculares, tem apreciar os sons do mundo, das pessoas... tudo. Faço-o como forma de meditação. Respiro calmamente, aprecio cada som, seja ele qual for. Noto quando começa, como se propaga e como se mistura com outros sons. Tento diferenciar cada som na balbúrdia sonora que diariamente nos envolve na cidade. É uma excelente oportunidad para meditar. Assim aprendemos a ouvir melhor e a dar valor ao que ouvimos.
E esta capacidade que temos é fantástica, conseguir interpretar diferenças de pressão que chegam até nós e fazem sentido, com o seu ritmo e tons... adoro.
Voltando à parte da diferenciação dos sons, é um dos meus passatempos atuais. Tentar diferenciar o maior número possível de sons de uma mistura e identificar a origem de cada um. Adoro ir no autocarro e ouvir o som dos pneus a rodar no asfalto e como o som muda a cada curva e ainda depende da velocidade do autocarro, da curva e do número de pessoas que vão no autocarro. Depois vem o barulho das portas a abrir, cada engrenagem e sistema hidráulico...
É uma espécie de meditação no caos sonoro e deste caos encontramos paz. E a capacidade de estarmos em paz independentemente do local é algo que requer prática, muita prática. Mas é algo que recomendo vivamente, pois nunca temos completo domínio do que nos rodeia, mas somos totalmente responsáveis pela forma como agimos e reagimos.
Da próxima vez que estiverem para colocar os auriculares, pausem um pouco e tentem ouvir o mundo como se fosse pela primeira vez e apreciem esta dádiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário